E pode?

16.11.15 by Fred Maia
Ludmila no sexto mês de gestação, correndo uma prova de 11,5km em Foz do Iguaçu.


Muito legal ver olhares de aprovação e sorrisos na direção da Ludmila, então grávida de 6 meses, quando ela está fazendo seus treinos de corrida. Pena que esses são a minoria. A maior parte das pessoas, principalmente mulheres, lançam olhares de reprovação. Algumas, geralmente mais velhas, fazem até careta! Quando o assunto é gestação, há muitos "especialistas" espalhados por aí, e só quem está grávida ou já engravidou (ou, como no meu caso, acompanhou), sabe as maluquices que as pessoas falam na rua a qualquer sinal de barriga protuberante. Fora os adivinhos de sexo de bebê e totais desconhecidos que querem fazer carinho na barriga ou até mesmo beijá-la. Grávida tem que ter muita paciência..



Acostumada com os olhares inquisidores dos treinos na orla de Niterói, a Lud se surpreendeu ao receber tantos elogios e sorrisos ao final da prova de 11,5km que correu em Foz do Iguaçu em setembro passado, enquanto eu corria minha primeira maratona. Mulheres pedindo para tirar foto com "a grávida atleta" e dizendo que iam mostrar a foto a seus médicos para provar que sim, gestantes podem praticar exercícios! Infelizmente, na prática, os exercícios físicos durante a gestação não são estimulados, seja por crendices ou por falta de informação, ou os dois, apesar de a Organização Mundial de Saúde dizer o contrário.



Antigamente, as gestantes eram aconselhadas a interromperem qualquer atividade física, até mesmo o trabalho ocupacional, pois acreditavam, que isso poderia acarretar partos prematuros por estimulação das contrações uterinas (BATISTA et al, 2003). Um preconceito provindo da Grécia antiga, em que as mulheres eram proibidas até mesmo de assistir aos Jogos Olímpicos e serem poupadas de sua exposição (LEITÃO et al, 2000). Atualmente é comprovado cientificamente que, a prática de atividades físicas propicia melhor qualidade de vida e saúde durante a gestação. Dessa forma, nota-se que, a influência da atividade física e da nutrição no período gestacional vem merecendo destaque na literatura, principalmente por sua importância na promoção e manutenção da qualidade de vida, controle e prevenção de doenças (TAKITO, 2005).



Muita informação equivocada sobre o tema se espalha por aí, principalmente na internet, o que acaba gerando desinformação. Muitos amigos me perguntam: E pode? Pode até quantos Kms? Até quantos meses de gravidez? A resposta é sim, pode. Não, não é arriscado para o bebê, nem para a gestante. Conforme a gestação avança, obviamente vai ficando mais difícil, mas há indicação para correr e/ou praticar exercícios físicos enquanto o corpo deixar, o que, inclusive, ajuda bastante pra quem pretende ter parto normal. Vai ser difícil, para uma gestante sedentária, completar uma meia maratona, por exemplo, mas a ideia de começar a praticar exercícios na gestação (caso não haja nenhuma contraindicação clínica ou obstétrica) só trás benefícios. Imagine então pra quem já os praticava?

Quando a Lud avisou ao Marlon, nosso treinador, que estava grávida e pretendia continuar correndo, ele fez uma pesquisa pela literatura científica disponível na internet sobre o tema e mandou pra ela um resumo do que havia encontrado, junto com suas considerações. E a partir daí, redesenharam o planejamento dos treinos de modo que ela continuasse a correr de maneira confortável.



Na ausência de contraindicações clínicas ou obstétricas (lista abaixo) para a prática de exercício, todas as gestantes devem ser estimuladas a manter ou adotar um estilo de vida ativo durante o período. O exercício físico em intensidade leve a moderada é considerado prática segura tanto para a mãe quanto para o feto.
FONTES: ACOG Committee Obstetric Practice. ACOG Committee opinion. Number 267, January 2002: exercise during pregnancy and the postpartum period. Obstet Gynecol. 2002;99(1):171-3.
Royal College of Obstetricians and Gynaecologists [Internet]. Exercise in pregnancy (RCOG Statement No 4). 2006 [cited 1 Mar 2014]. Available from: <http://www.rcog.org.uk/womens-health/clinical-guidance/exercise-pregnancy>

Contraindicações Absolutas
  • Doença cardíaca
  • Doença pulmonar restritiva
  • Incompetência ístimo-cervical
  • Gestação múltipla (após 30 semanas)
  • Sangramento durante a gestação
  • Placenta prévia
  • Trabalho de parto prematuro
  • Ruptura prematura de membrana
  • Pré-eclâmpsia ou qualquer hipertensão arterial não controlada


Contraindicações relativas
  • Anemia (hemoglobina menor que 10mg/dl)
  • Arritmia cardíaca
  • Bronquite
  • Diabetes não controlado
  • Hipertensão arterial crônica, eplepsia ou doença da tireoide
  • Obesidade extrema, desnutrição ou desordem alimentar
  • Restrição de crescimento fetal
  • Fumantes em excesso
  • Estilo de vida sedentário

Contraindicações absolutas e relativas para a prática de exercício físico por gestantes Adaptado: ACOG Committee Obstetric Practice6 e Royal College of Obstetricians and Gynaecologists19 

Benefícios
  • A atividade física proporciona melhor qualidade de vida tanto para o feto e para a gestante;
  • Melhora o condicionamento físico e diminui os possíveis sintomas indesejáveis;
  • Controla o peso corporal; Melhora a auto-estima e imagem;
  • Melhoram as condições de irrigação da placenta, facilita o trabalho de parto;
  • Reduz a tendência para diabetes gestacional;
  • Previne o desenvolvimento de doenças cardiovasculares;
  • Mantém a saúde mental e emocional, controlando a consciência corporal, melhorando assim o sono e a fadiga;
  • Diminui a ansiedade, o estresse e o risco de depressão.
    Fonte: ARTAL, O’TOOLE, WHITE, 2003; BATISTA et al, 2003; MATSUDO, MATSUDO, 2000. 



No nosso caso específico, como já estamos no terceiro trimestre de gravidez, as fontes que pesquisamos dizem que cabe à gestante decidir o momento de interromper os exercícios. Ou seja, enquanto estiver se sentindo bem, keep running!

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