MARATONISTA!

2.10.15 by Fred Maia
Esse é o final da história. Ou melhor.. dessa história. Que venham as próximas!

Quase perdemos vôo. Ao chegar no balcão do check-in a atendente nos informou que nosso vôo já estava encerrado.. bolei. Mas acabamos por conseguir embarcar. Foi só susto e acabou que depois o vôo atrasou. Chegamos no aeroporto de Foz do Iguaçu e fomos direto pegar o carro que alugamos pela internet.

Foz do Iguaçu não é uma cidade grande. Da hidrelétrica de Itaipu ao Parque das Cataratas, os dois extremos da cidade, são 42Km. Metade desse percurso é de área urbana, de modo que o deslocamento é bem tranquilo.

Mapa da cidade. Paraguai ao lado, Argentina abaixo. Percurso da maratona marcado em vermelho.

A Pousada Caroline fica a 10km do aeroporto e foi excelente nos quesitos café da manhã, atendimento e infraestrutura. A localização é ótima, internet wi-fi bem rápida, os funcionários muito solícitos e gentis, o quarto muito bom, a pousada sempre limpa, área comum com piscina, sauna, microondas, fogão, churrasqueira e o café da manhã é sensacional! Encontramos o Dan e a Bárbara na pousada e eles nos deram um panorama do que já haviam visitado pois chegaram dois dias antes de nós. Saímos todos para jantar na Churrascaria do Gaúcho. Churrascaria rodízio por R$28,90. Juro pra você que valeu cada centavo. Recomendo muitíssimo! Depois de comermos até sermos praticamente expulsos do restaurante, o sono bateu pesado. E ele só foi interrompido pelo barulho nervoso das trovoadas do temporal que caiu no meio da madrugada. Será que correríamos com chuva? Logo cedo quando acordamos, o tempo estava um pouco nublado, mas sem chuva e aos poucos foi abrindo com alguns pequenos momentos de sol entre nuvens. Passeio com sol seria ótimo, corrida não! Depois da grata surpresa do café da manhã maravilhoso, seguimos em direção ao SESC para pegarmos nossos kits.


Na sequência fomos visitar o Parque das Cataratas, do lado brasileiro. Também é possível visitar o Parque pelo lado argentino e ficamos bem curiosos para ver as quedas pelo lado de lá pois nos parecia ter um ângulo bem mais bacana para apreciar o visual. O Parque é muito bacana e a estrutura é de parque dos Estados Unidos, estilo Disney. Tudo muito organizado, bem conservado, limpo e funcionando. Há tantos quatis quanto avisos por todos os lados para que os turistas não os alimentem, apesar da insistência dos bichinhos para serem alimentados por nós.



Embora o tempo estivesse meio nublado, não choveu, mas nos molhamos mesmo assim ao atravessarmos a passarela sobre o rio para chegar pertinho da Garganta do Diabo. As quedas são de uma magnitude hipnotizante e "cada mergulho era um flash".

Me segura que eu vou me jogar!

Coisa linda!

Barriga roncou, passeio acabou. Tem um restaurante dentro do Parque com vista para o rio mas achamos o preço um pouco salgado.. e sinceramente, depois do Gaúcho, ficou complicado avaliar custo x benefício. Acabamos almoçando num restaurante em frente ao Parque, do lado de fora, onde nos prometeram um desconto. Não valeu a pena. Horrível. Não recomendo. Mas enchemos a pança mesmo assim. Com aquele clima chuvoso e friozinho, bateu aquela lombreira clássica pós-almoço e decidimos por adiar a visita ao Parque da Aves (passeio imperdível!), que fica em frente ao Parque das Cataratas.

A gente entra no viveiro dos pássaros e fica tomando rasantes de tucanos, araras e piriquitos.

Pequeno aperitivo do passeio no Parque das Aves. Esse passeio é imperdível!

Colocamos a culpa na chuva. Mas a verdade é que tava geral querendo jiboiar. Resultado: siesta na pousada. Ao acordarmos no início da noite, fizemos uma pequena reunião pré-prova e saímos para jantar. Já estava tarde e as opções que queríamos estavam fechadas. Churrascaria de novo não ia ser maneiro no pré-prova. Achamos uma lanchonete que servia sanduíches, tapiocas, sucos e picolé Lovita (fica a dica!). De volta à pousada, iniciei minha preparação de roupas, comidas, meia, vaselina, pochete, numero de peito, chip, relógio e mochila com roupas secas, analgésicos, relaxantes musculares e dinheiro para uma cerveja comemorativa pós-prova.

Tudo arrumadinho.

Quando acabei de arrumar tudo, já passava das 23 horas. Despertador ajustado para as 4 e você deve estar pensando.. não conseguiu dormir de ansiedade, certo? Errado. Em 5 minutos eu provavelmente já estava roncando. Dormi muito bem apesar do pouco tempo de sono e ao sair da cama dei início ao ritual de preparação. Alongamento e massagem com o rolo, beber água, banho, vaselina nos locais que atritam, esparadrapos nos dedos, chip no tênis e número de peito na camiseta. Nossa pousada nota 10 preparou café pros maratonistas as 5 da manhã, sendo o horário normal de 7:30 às 10:30. Coisa linda! Até então, tudo nos conformes mas nada do Marlon aparecer. Ele que é metódico com a organização não tinha aparecido no café.. pensei até que ele pudesse estar aprontando alguma. Mas conforme o tempo passava fui ficando preocupado. Até que a Sabrina apareceu para avisar que ele não ia correr. Teve febre a noite toda, daquelas de rolar tremedeira de frio mesmo com o quarto a 30 graus e com dois cobertores por cima. Essa viagem estava planejada há muito tempo e imagino o quão difícil foi pra ele não poder correr. A pousada também agilizou transporte para os atletas a preços justos e fomos todos os inscritos na maratona juntos em uma van para o SESC, onde foi a nossa largada, e o pessoal dos 11,5km num outro transporte para a entrada do Parque, local da largada deles. A Lud acabou indo sozinha pois a Bárbara não corre e a Sabrina ficou cuidando do Marlon. A largada da maratona, originalmente, seria dentro do complexo de Itaipu, de frente para a barreira da hidrelétrica, mas os funcionários da usina estavam em greve e foi necessária uma mudança de planos às vésperas do evento. Chegamos com tempo de sobra e fui direto deixar minha mochila no guarda-volumes. E antes que você pergunte.. sim, a ansiedade bateu em forma de caganeira, pra variar, e tomei rapidamente o rumo dos banheiros químicos, os quais nunca vi tão limpos. Uma beleza! Já havia largado a mochila no guarda-volumes, o barro no banheiro químico e o sol ainda nem tinha dado as caras. Chegar cedo tem suas vantagens!

Desculpem o palavrão..

Lembrei de testar o gps do relógio para ver se demoraria a conectar. E conectou super rápido com os satélites. Tudo certo. Acompanhei a largada dos cadeirantes às 6 da manhã e, na sequência, a dos deficientes visuais, da elite feminina - dá tempo pra mais uma mijada? sim! - elite masculina, comerciários e, enfim, minha vez no pelotão geral. O puto do relógio me sacaneou e não pegou de primeira. Larguei mesmo assim e o GPS só conectou depois de um minuto de prova. Saindo do SESC fomos na direção oposta às Cataratas, para passarmos em frente a entrada da hidrelétrica, voltarmos ao SESC e seguirmos para o Parque. Ao passar de novo em frente ao SESC, já com 12km de prova, cruzei os dedos e tentei dizer pro meu cérebro que a prova estava começando a partir dali. Segue viagem. Segui batendo um papo ótimo com o Dan durante o tempo todo.

Ó nós ali na rabeira! Resenha rolando solta!

Uma hora e vinte de prova e pensei na Lud já me esperando no Parque. Foi quando depois de subirmos a Avenida Brasil, uma pirambeira arrumada, o Dan lança o papo do mantra: Fred, o lance é repetir o mantra.. Eu treinei, eu me preparei, eu estou bem, eu vou completar. Naquele momento eu estava bem, sabia que tinha treinado, me preparado e que ia completar. Mas guardei o mantra na cabeça pro momento oportuno. Mais cedo ou mais tarde, ele chegaria.

Não demorou muito, chegamos no pé da ladeira que dava acesso a nossa pousada. Resiste à vontade de entrar, cagar, tomar um café ou dormir. Subidão danado. O Dan começa a ratear antes do km 21. Um quilômetro antes da metade da prova já dava pra ouvir uma pessoa no microfone e o som alto. Era o ponto de troca da maratona de revezamento. Coquinha, água e Gatorade. Aproveitei pra mandar uma mariola, uma paçoca e um Advil pra dentro. O Dan ficou um pouco pra trás mas me alcançou uns 2km na frente. Logo começou a se queixar de fadiga. Combinamos uma parada no 27, bem no alto de uma ladeira, pra alongar e dar um Advil pra ele. No 27 ele encosta na tenda, alonga, descansa, toma coca-cola, eu alongo rápido, mijo no mato, ele demorando, gritei tô partindo, meu corpo estava esfriando, ele ficou e eu esqueci do Advil dele.

Dali pra frente as subidas foram ficando mais longas e mais íngremes. Na subida para o aeroporto passei por um cadeirante que sofria para se manter subindo. Ele passou por mim voado na descida seguinte.. mas na outra subida, que chegava na entrada do Parque, eu passei por ele e ele não me alcançou mais. Foi assim também com o segundo cadeirante e, mais na frente, já dentro do Parque, com a terceira cadeirante (única mulher e vencedora no geral da categoria cadeirantes). Achei que eles passariam voando na minha frente por causa das decidas mas as subidas eram penosas demais para eles. Da entrada do Parque em diante só faltavam 12km.



Cheguei no 32, só faltam 10, pensei: Vou tentar fazer esses 10k em uma hora. Quando chegar no 34, os fatídicos 34, tomo mais um Advil pra espantar esse fantasma. Sebo nas canelas! Percurso maravilhoso. Chuvinha. Muita gente sentindo o peso dos quilômetros e caminhando. Faltando 6, dei meu último Advil para uma moça que sofria com cãibras. Já me sentia maratonista, queria correr mais rápido, cruzar logo a linha de chegada e pendurar a medalha no peito. Fiquei curioso para saber meu ritmo médio nos últimos 10k. Sobe desce danado. A essa altura a maioria dos atletas caminhava ou trotava. Não fui ultrapassado por nenhum atleta desde que entrei no Parque. Ultrapassando geral! Me senti Ayrton Senna largando em último e chegando em primeiro. Eu estava bem! Eu tinha treinado! Me preparado! Eu ia completar! Os ônibus do Parque passavam no sentido contrário com a galera que voltava da prova dando força aos que ainda corriam. Já a galera que estava nos ônibus que iam em direção às cataratas, desejava que fossemos atropelados. A prova, com todas as mudanças no trânsito e na rotina do Parque deve ter tornado o passeio um tormento pra quem não estava ali pra correr. Mantra rolando em alto e bom som. Alguns atletas se juntaram ao coro. EU TREINEI, EU ME PREPAREI, EU ESTOU BEM, EU VOU COMPLETAR!


Me imaginava chegando e engasgava um choro contido. Engolia o choro rápido pra não atrapalhar minha respiração. Lembrava da chegada da maratona da Lud um ano antes e me emocionava. Tentei lembrar quanto dinheiro tinha na carteira que estava no guarda volumes porque estava disposto a dar ele todo em troca de uma massagem no final da prova. Estava chegando a minha hora. E pensar que quando terminei o treino de 34, o mais longo antes da prova, concluí que seria impossível correr mais 8. Quando faltavam 12 eu já não me aguentava de felicidade. Na minha cabeça eu já estava lá, inteiro, sobrando. Do 40 em diante foi só alegria. Exceto pela parte antes da penúltima curva, no alto de uma subida onde eu havia visto na internet que o fotógrafo ficava de plantão para clicar os atletas com as cataratas ao fundo e quando passei não tinha ninguém.. Será que demorei tanto assim? Pô.. Passei mó galera dentro do Parque.. Cadê o fotógrafo?

O fotógrafo pegou a galera dos 11,5km e depois foi pra chegada esperar a galera dos 42km. Tá perdoado. Lud e Cléo ficaram muito bem na foto!

Beleza. Vambora. Mais uma descida, mais uma subida.. Virei a curva e a Lud estava lá, colada na placa dos 42, pulando quando me viu. Corremos juntos os 195 metros mais felizes da minha vida.



Eu podia terminar aqui esse meu relato.. mas preciso elogiar a organização e estrutura da prova. Tudo que eu queria na chegada era uma massagem nas pernas e tinha uma equipe de profissionais com várias macas, gelo, muita receptividade, cuidado e atenção com quem acabava de correr 42.195 metros. Fora água, Coca-Cola, Gatorade, frutas, sanduíches e uma ducha! Eu estava super ansioso para pegar minha medalha e colocar no pescoço! O símbolo da minha vitória! Mas só consegui relaxar depois que vi que não precisava ter pressa, eu já era um matatonista, podia e merecia desfrutar daquela atenção dada pela organização para o meu conforto e bem estar, antes de pegar a medalha. Depois da massagem, tomei uma ducha gelada e revigorante ao ar livre e saí da área dos atletas para colocar uma roupa seca.

Tratamento VIP para os atletas na chegada.

Enquanto tomava um café para esquentar o corpo, Sabrina e Marlon chegaram. O Marlon estava com uma cara péssima e devia estar super frustrado de não ter corrido. Mas mesmo assim conseguiu se alegrar um pouco com a minha conquista, afinal é co-responsável pela minha vitória. Depois do café quente, tomamos um chope para comemorar! Fiquei dois meses sem beber cerveja antes da prova. E o Marlon, sabendo que sou cervejeiro, me presenteou com um chope gelado.

Chopinho com o coach! Porque nós merecemos! O visual é do deck do restaurante Porto Canoas, dentro do Parque.

Nesse meio tempo chegou o Dan, bastante prejudicado e andando como ser estivesse com pernas de pau. Agradeci o mantra que tanto me ajudou e o parabenizei pela conquista. Acho que ele também deve ter lembrado muito de mim desde o ponto em que nos separamos.. Só que me xingando por eu não ter lhe dado o Advil..

Durante os períodos de treinos mais duros, pensei que não ia querer correr outra maratona tão cedo. A preparação exige planejamento, disciplina, esforço, compreensão e apoio da família e amigos. É trabalhoso e dolorido. Mas a sensação que nos invade no momento em que se cruza a linha de chegada, nos induz a querer começar tudo de novo e já se inscrever na próxima. Seja para melhorar o tempo ou para se pôr à prova em outras condições, outros percursos. Ou para conseguir chegar aos 70, 80 anos completando maratonas como muitos senhores e senhoras que dividiram a pista comigo no dia em que me tornei MARATONISTA.


8 comentários:

  1. Que venham muitas outras depois dessa juntos sempre! Te amo!

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  2. Aeeeeeeeeee! Fred Maiaaaaaaaa... éeeeeeeeeeeé do Brasilllllllllll! Mandou muito bem. Tava preparado e feliz. Ninguém segura. Abs

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  3. Aeeeeeeeeee! Fred Maiaaaaaaaa... éeeeeeeeeeeé do Brasilllllllllll! Mandou muito bem. Tava preparado e feliz. Ninguém segura. Abs

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  4. Show de bola Fred!! Parabéns pela conquista. Adoro seus textos. Bjos e na Lud tb.
    É a Melissa, é que eu não tava conseguindo publicar com a conta do google.....

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  5. É impossível não se emocionar com um relato de uma maratona. Eu corri a minha por causa de um registro como este e vez outra penso quando correrei minha segunda. Excelente estréia! Fiquei pensando aqui com meu tênis (no bom estilo ser ou não ser, eis a questão) se o calor da maratona do Rio foi mais brabeira que as pirambeiras aí do sul. Sendo ou não, o que importa é que a maratona é um ato de transformação. SOMOS MAIS depois de 42.195 metros! Quem viveu sabe e como você disse, terminamos pensando onde será a próxima.
    Somos loucos de tênis :-)
    Parabéns, Fred.

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  6. Pessoal, por algum bug no tema do Blog, não consigo responder às mensagens de vocês individualmente.. Então fica aqui meu agradecimento à torcida e às mensagens!
    Lud, meu amor, não vejo a hora de cuzarmos a linha de chegada correndo juntos do início ao fim!
    Maurício, meu guru, obrigado pelo apoio de sempre!
    Melissa, fico feliz que você curta os textos! Não penso em descontinuar o blog agora que corri a maratona, pelo contrário. Quem sabe não animo mais gente a entrar pro grupo dos Loucos de Tênis como bem definiu meu camarada André?
    André, falou tudo! A maratona É um ato de transformação! Obrigado pelo apoio!
    Cunha!! Quando correremos sua primeira prova de rua??

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